O que a neurociência e a psiquiatria dizem sobre o ciclo da ruminação e como sair dele com estratégias práticas
Você deita para dormir, apaga a luz, fecha os olhos… mas sua mente não para. Pensamentos sobre o que deu errado no dia, preocupações com o futuro ou lembranças desconfortáveis começam a invadir o espaço do descanso. Se isso soa familiar, você pode estar preso no ciclo da ruminação cognitiva, um padrão mental repetitivo que prejudica o sono, aumenta o estresse e contribui para ansiedade e depressão.
O que são pensamentos ruminantes?
A ruminação é o hábito de repetir mentalmente os mesmos pensamentos, geralmente negativos ou preocupantes, sem chegar a uma conclusão útil. É diferente de refletir ou analisar: a ruminação gira em círculos e costuma alimentar ainda mais angústia.
Segundo a psiquiatria e a neurociência, o cérebro em repouso tende a entrar em modo de rede de modo padrão, um tipo de atividade cerebral associada à introspecção e à autoavaliação. É por isso que, ao deitarmos para dormir, com menos estímulos externos, os pensamentos ruminantes encontram espaço para florescer.
Por que isso acontece à noite?
Durante o dia, a mente está ocupada com tarefas, interações e estímulos. Quando chega a noite, o silêncio e a falta de distrações fazem com que o cérebro se volte para dentro. A neurociência mostra que esse momento pode ser propício para reorganização emocional e consolidação da memória, mas também abre espaço para que preocupações se amplifiquem se não forem bem administradas.
1. Reserve um “tempo de se preocupar” durante o dia
Defina um período de 15 a 30 minutos no início da noite para anotar ou refletir sobre suas preocupações. Isso ajuda a “esvaziar” a mente antes de dormir, evitando que esses pensamentos surjam no momento de descanso.
2. Crie um ritual de desaceleração antes de dormir
Estabeleça hábitos relaxantes: tomar um banho morno, tomar chá calmante (camomila, capim-cidreira), ouvir música tranquila ou ler um livro leve. Isso sinaliza ao cérebro que é hora de repousar e ativa o sistema nervoso parassimpático.
3. Pratique respiração consciente e relaxamento muscular
Técnicas como a respiração 4-7-8 (inspire por 4 segundos, segure 7) o relaxamento muscular progressivo ajuda a acalmar o corpo e a mente, tirando o foco dos pensamentos obsessivos.
4. Experimente mindfulness e desfusão cognitiva
Mindfulness é a prática de estar presente, observando pensamentos sem julgá-los. Já a desfusão cognitiva, da Terapia de Aceitação e Compromisso, convida você a mudar o relacionamento com os pensamentos, por exemplo, dizer “estou tendo o pensamento de que algo ruim vai acontecer” em vez de “algo ruim vai acontecer”. Essa pequena mudança gera distanciamento emocional.
5. Evite estímulos mentais e visuais à noite
Luzes fortes, telas de celular e conteúdos intensos (como noticiários ou redes sociais) ativam áreas do cérebro que dificultam o sono e alimentam a ruminação. Desconecte-se pelo menos 1 hora antes de dormir.
6. Use distrações cognitivas leves
Em vez de lutar contra os pensamentos, direcione sua atenção para algo mais neutro: ouvir um podcast tranquilo, fazer um exercício mental simples (como contar de 100 até 1 de trás pra frente), ou imaginar um lugar seguro e relaxante.
7. Movimente o corpo durante o dia
Exercícios físicos regulares reduzem os níveis de cortisol (hormônio do estresse) e aumentam a serotonina, o que ajuda no controle da ansiedade e no relaxamento noturno. Mesmo uma caminhada leve já é benéfica.
Quando procurar ajuda?
Se os pensamentos ruminantes forem frequentes, intensos e começarem a comprometer sua qualidade de vida, é importante buscar apoio psicológico ou psiquiátrico. Terapias como a Terapia Metacognitiva, Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso) têm excelente eficácia no tratamento desse padrão mental.
Afirmação do dia
“Eu sou capaz de silenciar minha mente e encontrar paz no presente.”
A ruminação não é sinal de fraqueza, é um padrão natural do cérebro que, quando não regulado, se intensifica. Mas você pode assumir o controle com pequenas mudanças diárias. Ao aplicar essas estratégias, você estará treinando sua mente para se libertar dos ciclos repetitivos e cultivar o descanso que realmente merece.
Luciana Brandão
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